Jesus das Santas Chagas: Padre Reginaldo Manzotti ensina sobre ferida da mão esquerda de Cristo

20 dezembro 2024

“É pela Chaga da Mão Esquerda que Jesus faz chegar ao Pai os anseios das almas dedicadas ao apostolado. Ferem-na os hipócritas que trabalham no Reino de Deus apenas por vaidade e ostentação” (Pe. Alberto Guimarães Gonçalves Gomes). 

Jesus alertou: “Ai de vós, fariseus, ai de vós, hipócritas” (cf. Mt 23). Esse aviso serve para nós. A Chaga da Mão Esquerda de Jesus traz igualmente uma proposta curativa e redentora. A ela associo a virtude da mansidão, que faz parte da temperança. Ela emana do amor-caridade e é adquirida com o esforço contínuo, fruto da condição de sentir-se amado por Deus.

É uma faculdade psíquica e espiritual que nos propicia ter controle sobre nossas emoções e no trato com as outras pessoas, mantendo-nos serenos nas situações de conflito. Todos nós temos essa capacidade, mas em geral ela se encontra adormecida ou dispersada. Mesmo que não sejamos mansos, podemos adquirir a mansidão. Foi Jesus quem disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,28).  

A mansidão é o remédio contra a ansiedade e o estresse, pois ela age trazendo a serenidade e a paz interior. Já a falta de mansidão faz que levemos tudo para o lado pessoal e, com isso, qualquer contratempo nos atinge, tornando-nos mais propensos a agredir o próximo e a nós mesmos. Por isso precisamos desse remédio das Santas Chagas: basta uma gota do Sangue Redentor contendo a virtude da mansidão. Assim, perante as críticas, adversidades ou tribulações, nós nos manteremos serenos. Um coração sereno não ofende e nem se deixa ofender com facilidade.

É impossível alguém ser manso se não passar pela redenção que, em Jesus Cristo, é sinônimo de perdão e de reconciliação. Jamais seremos pessoas mansas se não fizermos o que eu chamo de “fisioterapia da alma”, visando à santificação. Jamais teremos um coração manso se estivermos tomados por sentimentos negativos, como mágoa, raiva, ódio, ressentimento, desejo de vingança. O perdão é fundamental para a mansidão, pois ele tem o poder de curar as feridas do coração e de eliminar o desamor.

Para adquirirmos a virtude da mansidão precisamos, em primeiro lugar, conhecê-la e desejá-la ardentemente. Mas, como podemos conhecê-la? Olhando para Jesus. Ele é o modelo de mansidão. Em segundo lugar, é preciso purificar o coração dos maus sentimentos. Por fim, precisamos pedir ao Espírito Santo e, uma vez recebida a graça, deve-se cultivá-la conscientemente, buscando sempre harmonia e conciliação. Se agirmos dessa forma, estaremos cultivando o fruto do Espírito Santo, enquanto aqueles que adoram “ver o circo pegar fogo”, estarão no caminho contrário.

A mansidão nada tem a ver com fraqueza, timidez ou morosidade, tampouco implica aceitar tudo sem cobrar nada. Não se trata de agir como uma pessoa sonsa, inerte, sem vida, passiva diante tudo, desprovida de atitude e de propósitos. Isso, na verdade, é omissão. Jesus era manso, sim, mas tinha atitude, uma característica comum a todos os Santos.

Quando um cavalo selvagem é domado, ele não perde sua força nem sua rapidez, apenas torna-se fácil de lidar, apto para o serviço. Da mesma forma podemos dizer que a mansidão domina o nosso lado selvagem sem comprometer a nossa identidade e todas as habilidades que possuímos.

O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, enfatiza: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49). Eu, Pe. Reginaldo, tenho certeza de que erro muito, pois atuo em muitas frentes. Então, a probabilidade de haver erros é grande, mas, sinceramente prefiro errar fazendo a acertar me omitindo.

A vantagem da mansidão é que ela torna a pessoa mais amável e, consequentemente, aumenta a qualidade de vida. A pessoa mansa tem segurança quanto aos seus propósitos e maior discernimento nas suas escolhas, além de conseguir esperar o Espírito iluminar para tomar a decisão mais coerente. A virtude da mansidão aguça a sensibilidade e a maturidade. É ela que nos prepara antecipadamente para agirmos com serenidade nos momentos difíceis, ajudando-nos a não termos medo do novo. E, quando o novo nos desafia, ela nos ajuda a permanecermos firmes em nossos princípios.

Um dos efeitos do avanço das tecnologias e da globalização, infelizmente, é nos deixar conectados o dia inteiro. A lei do mercado hoje é “ser funcional e produtivo” e se não atendemos a esse requisito, estamos fora. Costumo dizer que o ser humano está programado para ser inquieto, o que torna difícil desenvolver a mansidão, mas ela não pode ser menosprezada ou esquecida, pois é por seu intermédio que chegam ao Pai os anseios das almas dedicadas ao apostolado. Se não exercitamos a mansidão, que zelo apostólico teremos?

Não somos apenas nós, sacerdotes, que temos um apostolado, mas todos os leigos, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Sendo a característica do estado leigo viver em meio ao mundo e aos negócios seculares, são eles chamados por Deus a exercer seu apostolado no mundo à guisa de fermento, graças ao vigor de seu espírito cristão” (CIC 940). Então, o leigo desenvolve seu apostolado no meio em que vive, incluindo o ambiente familiar e o trabalho, e cabe a ele agir como fermento na massa e testemunha do Reino de Deus.

Nesse sentido, o que reabre esta Chaga de Cristo é a hipocrisia daqueles que trabalham pelo Reino por vaidade e ostentação, procurando o primeiro lugar à mesa e trabalhando apenas para receberem elogios. Por isso, aprendamos com Jesus a sermos mansos como Ele é.

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